sábado, 16 de maio de 2009

Vamos Celebrar (Oswaldo Montenegro)

Eu gosto de andar pela rua
bater papo, de lua e de amigo engraçado
Eu gosto do estilo do Zorro
o visual lá do morro e de abraço apertado
Eu gosto mais de bicho com asa
mais de ficar em casa e mais de tênis usado
Eu gosto do volume, do perfume
do ciúme, do desvelo e do cabelo enrolado
Eu gosto de artistas diversos
de crianças de berço e do som do atchim
Eu gosto de trem fora do trilho
de andar com meu filho e da cor do marfim
Tem gente, muita gente que eu gosto
que eu quase aposto que não gosta de mim
Eu gosto é de cantar
Vamos celebrar, celebrar, celebrar... Vamos celebrar
Vamos celebrar, celebrar, celebrar... Vamos celebrar
Eu gosto de artista circense
de astista que pense e de artista voraz
Eu gosto de olhar pra frente
de amar pra sempre o que fica pra trás
Eu gosto de quem sempre acredita
a violência é maldita e já foi longe demais
Eu gosto do repique do atabaque
do alambique badulaque do cachimbo da paz
Eu gosto de inventar melodia
da palavra poesia e de palavra com til
Eu gosto é de beijo na boca
de cantora bem rouca e de morar no Brasil
Eu gosto assim do canto do povo
e de tudo que é novo e do que a gente já viu
Eu gosto é de cantar
Eu gosto de atores que choram ali por nós
e namoram ali por nós na TV
Eu gosto assim de quem é eterno
de quem é moderno e de quem não quer ser
Eu gosto de varar madrugada
de quem conta piada e não consegue entender
Eu gosto da risada gargalhada
da beleza recriada pra que eu possa rever
Eu gosto de quem quer dar ajuda
e acredita que muda o que não anda legal
Eu gosto de quem grita no morro
que a alegria é socorro e que miséria é fatal
Eu gosto do começo do avesso
do tropeço do bebum que dança no carnaval
Eu gosto é de cantar
Eu gosto é de ver coisa rara
a verdade na cara é do que gosto mais
Eu gosto porque assim vale a pena
a nossa vida é pequena e tá guardada em cristais
Eu gosto é que Deus cante em tudo
e que não fique mudo morto em mil catedrais
Eu gosto é de cantar

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Um texto com mais de 200 anos

Extraí esse testo Do livro Os Irmãos Karamazov, escrito por Dostoiévski em 1879-80, e incrível como continua valendo para os nossos dias.


“Para renovar o mundo, é preciso que os homens por si mudem de caminho. Enquanto cada um não for irmão de seu próximo, não haverá fraternidade. Nenhuma ciência e nenhum interesse ensinarão os homens a repartir pacificamente entre si as propriedades e os direitos. Cada um achará que lhe coube um quinhão muito pequeno e todos murmurarão, invejar-se-ão e se destruirão uns aos outros. O senhor pergunta quando teremos o paraíso sobre a terra. Isso sucedera, mas só depois que terminar o período do isolamento humano.
- Que isolamento?, perguntei.
Ele reina por toda a parte, principalmente em nosso século, mas ainda não terminou, porque não é chegada a hora. Atualmente, cada um aspira a separar sua personalidade das outras e deseja sentir em si a plenitude da vida, mas, em vez de atingir esse objetivo, os seus esforços levam-no ao suicídio total, pois em lugar de afirmação de sua personalidade, fazem-no cair num isolamento completo. Em nosso século todos se dividiram em unidades. Cada um se isola em sua toca e esconde-se com seus pertences; desse modo, afasta-se de seus semelhantes e afasta-os de si. Acumula riqueza completamente só, pensando: “Como sou forte agora e como estou garantido!” Ignora o insensato que, quanto mais acumula, tanto mais se abisma numa impotência fatal. Ele se habituou a confiar unicamente em si, apartou-se da coletividade, acostumou sua alma a não crer no auxílio dos homens nem na humanidade e treme só com a idéia de perder o seu dinheiro e os direitos conseguidos. Por toda a parte, hoje em dia, o espírito humano começa a esquecer-se ridiculamente de que a verdadeira garantia do indivíduo não consiste no seu esforço pessoal e isolado, mas na solidariedade humana. Contudo, virá um dia em que terá fim esse terrível isolamento e todos compreenderão de uma vez o quanto contrária à natureza era a sua mútua separação. Admirar-se-ão de que, por tanto tempo, permanecessem nas trevas, sem ver a luz. Então aparecerá no céu a imagem do Filho do Homem. Mas, até esse dia, é preciso manter alto o estandarte e dar o exemplo, tirando a sua alma do isolamento, para aproximar-se dos irmãos, mesmo com o risco de ser tomado por louco.”

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Talvez eu seja poeta.

Talvez eu seja um poeta recalcado,
Que se deixou esfriar pela hiprocrisia alheia
Que deixou de sonhar diante das dificuldades
Que deixou de amar pelas decepções
Que deixou de escrever por vergonha de si mesmo
Que deixou de rimar por falta de alegria na alma.
Que se deixou derrotar pela vida.
Talvez eu seja um poeta e não nego, que não escrevi, que não vivi, que murchei dentro de mim mesmo e deixei de acrescentar ao mundo palvras que fazem sonhar, sorrir, viver e amar.
Sou poeta mas não amei por fraqueza.
Fui fraco confesso, mas decidi mudar.
Ainda que não leiam minha poesia.
Ainda que não me amem como gostaria de ser amado.
Ainda que não veja meus sonhos realizados.
A ilusão da poesia irá invadir minha alma e me transfomar em alguém que ficou escondido através dos anos atrás de uma geleira.
O amor perfeito talvez seja utópico demais, mas vou continuar sonhando.
Por que mesmo que eu descubra que não vale a pena esperar pelo amor perfeito, vale a pena sonhar a cada dia com ele, e assim transformar esse amor em atitudes, e com essas atitudes atingir as pessoas e dessa forma deixar uma marca em suas vidas que as faça lembrar que um dia elas conheceram alguém que viveu, amou e se realizou.

Onde está Deus?

A cada domingo, a cada reunião, a cada congresso, encontro, ou seja, lá, como se chame, tenho feito uma pergunta para mim mesmo, aonde está Deus?

Sempre escutei que onde estiverem dois ou três reunidos Ele ali estaria.
Porém as músicas que estão sendo cantadas o mostram tão distante
Tão ausente
Tão desinteressado
Que preciso gritar, preciso pedir, preciso ordenar, preciso declarar para que Ele venha ao meu auxílio.
Quantos atos proféticos terei de realizar para alcançar o favor de Deus?
Onde Ele está?
Se preciso me sacrificar tanto para alcançá-lo
Se preciso me esforçar pelo seu amor
Se precisar pagar pela sua benção
Onde está Deus nas grandes catedrais?
No ajuntamento da multidão que busca em um homem mortal a palavra que mudará a vida, enquanto a Bíblia continua empoeirada em cima de um móvel qualquer.
Nunca se falou tanto de Deus, e Deus nunca foi tão ausente.
Presente só a emoção na canção, na pregação. Porém distante do coração, no dia a dia, na vida.
Milagre! Precisamos de um milagre! Não o que cura o corpo. Não o que cura o bolso.
Mas no entendimento, para que possamos entender que o evangelho é tão simples, que logo veremos que não é esse que tem sido oferecido.

Sola Scriptura

Sou uma farsa

É difícil assumir, mas após alguns devaneios que cometi na minha vida não me resta muita vaidade escondida, e isso acaba facilitando a me tornar alguém mais transparente e assumir o meu papel de farsante.

Transformei minha vida numa grande farsa.
Acreditei em projetos megalomaníacos de que poderia conquistar uma cidade.
Me tornei um farsante utilizando a Bíblia para respaldar tudo o que pensava
Busquei a benção de Deus utilizando os momentos de fraqueza de meus irmãos.
Se fosse possível enganaria o meu pai para que a benção fosse minha, assim como fez Jacó.
Manipulei pessoas fazendo-as a acreditar que tudo era para Deus.
Utilizei lágrimas para provar minha espiritualidade.
Utilizei capacidade intelectual para convencer as pessoas da unção.
Fiz meu casamento parecer belo, para galgar mais alguns degraus eclesiásticos.
Me esforcei no trabalho para ser promovido, para mostrar a benção de Deus sobre minha vida.
Entreguei os dízimos apenas com o interesse capitalista de receber mais de Deus.
Participei de campanhas na igreja apenas porque eu deveria ser um referencial para as outras pessoas.
Fazia de tudo o que parecia bom aos olhos humanos esquecendo-me de que precisava agradar a Deus.
Me comportava de acordo com os padrões estabelecidos pela igreja com medo da inquisição moral que poderia sofrer, e para não ficar “queimado” perante meus líderes, preferi abdicar de expressar o que pensava e sentia.
Os anos passaram, conquistei posições, conquistei respeito, conquistei prestígio, porém perdi minha alma.
Me tornei de doce aparência , porém por dentro estava amargo. Estava amargo porque não vivia mais a vida que queria, havia me tornado uma farsa, para agradar a familiares, amigos, líderes e até desconhecidos.
Me tornei uma farsa a cada tentativa de me tornar onipotente.
Troquei lindos sonhos por apenas lentilhas.
Aprendi que nada disso valeu. Que Deus estava por trás dos bastidores apenas esperando para que eu percebesse que estava errado.
Por isso confesso, eu sou uma farsa.
Mas apelo para a misericórdia de Deus para que a sua graça me alcance novamente.
Sola Scriptura

quarta-feira, 18 de março de 2009

Metade (Oswaldo Montenegro)

(Mais um texto que eu adoraria ter escrito)

Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada mesmo que distante
Porque metade de mim é partida, mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Sejam apenas respeitadas, como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos.
Porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso que eu me lembro ter dado na infância.
Por que metade de mim é a lembrança do que fui,mas a outra metade eu não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria pra me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silêncio me fale cada vez mais.
Porque metade de mim é abrigo mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é a platéia a outra metade é a canção.
E que a minha loucura seja perdoada porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Às vezes canso

Às vezes canso de viver por causa dos infortúnios

Às vezes canso de amar por causa das desilusões com as pessoas

Às vezes canso de sonhar pela falta de mudança

Às vezes canso de cantar, por falta música

Às vezes canso de trabalhar por falta de reconhecimento

Às vezes canso de sorrir por falta de alegria

Às vezes canso de chorar por achar que não vale a pena

Às vezes canso de brigar por falta de forças

Às vezes canso de beijar por falta de paixão

Às vezes me canso de muita coisa mesmo, mas ainda não cansei de recomeçar.